'Entre'
'In Between'
Svenska Kyrkan
Out/ Nov 2019- Nova Iorque EUA
Fábio Morais
'Superfícies, crostas, relevos, camadas e erupções são palavras do léxico geológico que podem ser usadas para falar dos procedimentos pictóricos de Marcia Ribeiro. Sobrepondo camadas de tinta para depois raspá-las e escavá-las em uma ação arqueológica, a artista constrói um passado – camada sobre camada – para depois revelar a memória física da própria pintura, semelhante à datação do solo. Esse procedimento evidencia crostas pictóricas, acentua o relevo da tela e libera erupções de cores-luzes que resultam em um vocabulário visual semelhante a movimentos e explosões cósmicas. A construção geológica e a posterior ação arqueológica, paradoxalmente, revelam um cosmos. A prática pictórica da artista começa Terra – matéria, tela, tinta, superfícies, crostas, relevos, erupções, camadas, geologia, raspagens, escavações, desgastes, arqueologia – e se torna Cosmos – luz, explosão, cor, cosmologia.
Ainda que dentro do regime de representação, tratar apenas o aspecto visual da pintura de Marcia Ribeiro pode ser reducionista. Sua pintura é resultado indicial e matérico de ações sobre a tela como campo de trabalho. A artista não pinta paisagens, mas sobrepõe camadas de tinta que compõem paisagens de relevo pictórico, para depois erodir a crosta da pintura liberando cor e luz. É como se as forças que movimentam a matéria do universo se afunilassem na escala humana da arte e atuassem sobre a materialidade do campo pictórico da mesma forma como atuam na escala cósmica. Se o corpo humano é um dos nós das forças que, segundo a ciência ocidental, movimentam-se impulsionadas pelo Big Bang, a mesma pulsão original que explode supernovas e aglutina a matéria de planetas parece impulsionar Marcia Ribeiro para que crie e manipule universos dentro do perímetro cosmogônico da tela.'